“Das Experiment” é um filme Alemão de 2001 baseado em fatos reais, o chamado experimento de aprisionamento de Stanford, ocorrido em 1971 na faculdade de Stanford na Califórnia. Tratava-se de uma experiência que envolvia 20 adolescentes homens voluntários com perfis psicológicos parecidos, que passariam 15 dias dentro de uma prisão simulada, distribuídos nos papeis de prisioneiros e guardas. Com tudo foi abortada no sexto dia, pois os guardas ficaram extremamente violentos e os prisioneiros já demostravam inúmeros distúrbios emocionais.
No filme, os voluntários são homens de várias idades e profissões que receberiam uma quantia de dinheiro após o termino da experiência. Dentre eles, Tarek Fahd (prisioneiro n° 77), um taxista que aceita a proposta de um jornalista de usar uma câmera escondida para depois vender a história. Essa foi uma das adaptações feitas no filme para ser mais atrativo no cinema, mas algumas cenas retratam fielmente o que aconteceu, como a invasão dos guardas nas celas usando extintores e obrigando os presos ficarem nus, presos tendo que limparem os banheiros com a própria roupa e castigo para as pessoas que mostravam ter vontade de deixar o experimento, e assim como no filme, o professor que coordenava o projeto demorou a cancelá-lo, mesmo com os estudantes dando sinal de fadiga emocional.
Analisando algumas cenas, podemos fazer um paralelo entre o filme e a experiência em Stanford com os estudos sobre comportamento de Skinner, Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), psicólogo que defende que o meio ambiente é responsável pelo comportamento humano, e que este meio pode ser condicionado para dar estímulos positivos e negativos para o indivíduo responder com uma ação.
Primeiramente temos o estimulo para atrair voluntários para a experiência, o dinheiro, que ao mesmo tempo serve para coibir o desejo de abandonar o projeto, já que ao desistir o indivíduo não recebe. Depois temos os testes para que um computador defina quem recebera cada papel. Propositalmente pessoas com potenciais perfis divergentes são colocadas em posições opostas, o caso de Tarek e um dos guardas, Berus.
Definido os guardas e prisioneiros o condicionamento começa na entrega das roupas. Policiais recebem seus uniformes, algemas e cassetetes. Os prisioneiros recebem uma espécie de túnica, chinelos e a ordem quem só devem ser tratados pelos números escritos em suas vestimentas. Há também regras que os guardas leem para os presos: Obedecer imediatamente o que for pedido; não conversar depois que as luzes se apagarem; comer tudo que for colocado no prato; não respeitar as regras gera punição. Os guardas não devem usar de agressão física, entretanto precisam manter a ordem do local.
Os trajes já servem de reforço como padronização de cargo, eles já mostrando a superioridade ou inferioridade. Transformar o indivíduo em um número o desumaniza, afasta de julgamentos emocionais, já que ser tratado pelo nome é o mínimo que de dignidade que uma pessoa pode ter. Regras com sistemas de punição é a base de condicionamento através de reforços negativos.
No início, todos estão levando na brincadeira, mas durante uma refeição um dos presos recusa tomar leite, para que ele não fosse punido Tarek bebe em seu lugar. O Guarda que permitiu é rebaixado pelos outros guardas, então ele perde a paciência, vai até as celas e pune Tarek. Na outra refeição novamente o preso recusa o leite, Tarek estimula todos pagarem flexões pelo preso que não gosta de leite. Isso irrita todos os guardas, pois ele começa a fazer uma sequência de ações que desrespeitam as regras, mas diverte os outros prisioneiros. É o reforço positivo dos outros presos que vai transformando n° 77 em um rebelde.
Um dos guardas, Berus, tem a ideia de humilhar os presos para manter o controle, é quando ocorre a invasão nas celas. A humilhação através da nudez é um reforço negativo, o ser humano se sente inferior, desprotegido, quando está sem roupa. Neste momento os guardas dão um aviso: toda vez que n° 77 desrespeitar uma regra todos serão punidos. A penalidade coletiva é outro reforço negativo, que faz com que Tarek tenha que pensar em todos antes de agir.
As outras humilhações anteriormente citadas vão dando mais sensação de poder aos guardas, são reforços que tanto os desumanizam que eles sentem prazer com a vergonha alheia. Tudo piora quando um cofre é colocado no meio da sala como futuro instrumento de tortura para o próximo desrespeito. Um símbolo tão ameaçador, que só sua presença carrega o lugar de mais medo.
Tarek é colocado no cofre porque tenta enviar uma carta pedindo ajuda para fora da prisão. Uma curiosidade é que o ator, Moritz Bleibtreu, que interpreta o n° 77, é claustrofóbico, o que deixa a cena dele aprisionado, mas perturbadora.
Neste ponto, já no quinto dia, o professor responsável viaja e a pesquisadora que acompanha decide parar a experiência. Berus acredita que a carta e o pedido de finalização são mais uma avaliação para os guardas, algo combinado para testar como se comportariam com a possibilidade de um agente externo. A liderança violenta de Berus está tão estimulada que sua megalomania pré-existente está muito “alimentada”. Ele manda trancar dois pesquisadores junto com os presos, começam a usar violência, um preso morre e depois um guarda. Cenas tão chocantes que são difíceis de ser descritas. No fim Berus é preso.
Uma consideração que deve ser feita sobre um dos acontecimentos nesta parte final é que momentos antes dos policiais invadirem as celas alguns presos abrem uma saída. Os traumas de alguns são tão grandes, que estes não conseguem atravessar a linha que os mantinham atrás das grades ou esquecem de tirar a fita que tampam suas bocas, necessitando de ajuda. Mais uma vez um símbolo reforçando as punições e também servindo como memória de controle. São como filhotes de elefantes presos com bolas de aço, que quando crescem não percebem sua superioridade de tamanho e força comparadas com o peso da esfera.
O filme mostra como realmente é possível condicionar através do ambiente e dos reforços que são dados, e que este ou qualquer outro teste com pessoas com certeza sairá do controle, pois apesar de ser possível dar um estímulo para conseguir uma ação, não previsível como será a reação devido todos os agentes emocionais e físicos individuais de cada ser humano.